terça-feira, julho 15, 2008

Ed Cordeiro entrevista os pilotos da GT3 Brasil Ricardo Rosset e Walter Salles Jr



Durante uma sessão de treinos fechados no Autódromo de Jacarepaguá (RJ), que aconteceu na primeira semana de julho, visando a 4a rodada da GT3 Brasil, realizada em Interlagos (SP) no último fim de semana, o amigo Ed Cordeiro entrevistou Ricardo Rosset e Walter Salles Jr, da equipe GT Racing, capitaneada pelo experiente preparador e piloto Wilton Neto, bicampeão carioca de automobilismo.


RICARDO ROSSET


O paulistano Ricardo Rosset mostrou interesse tardio pelo automobilismo, mas mesmo assim conseguiu alcançar a categoria máxima do automobilismo monoposto, a Fórmula 1. Infelizmente Ricardo não pode mostrar seu pleno potencial, em grande parte graças ao vínculo com equipes pouco expressivas e talvez um pouco pelo clima de exagerada cobrança dentro da categoria. É bom lembrar que antes de chegar na Fórmula 1, Ricardo teve participações na Fórmula 3 e Fórmula 3000 Internacional, onde, logo na prova de estréia, Ricardo fez a pole, a melhor volta e obteve a vitória da corrida. Fechou o campeonato como vice-campeão.


Apesar da sua experiência de muitos anos no automobilismo, Ricardo afastou-se da pista por longos 9 anos e dedicou-se mais aos negócios. Como a GT3 Brasil cresceu e mostrou uma interessante combinação de organização, competitividade e atratividade, Ricardo interessou-se por voltar às pistas e, junto com Walter Salles Jr, formaram uma dupla a altura de desafiar os campeões de 2007, Xandy Negrão e Andreas Mattheis, atuais líderes pela margem mínima de 6 pontos.


Ed: O que pode ser melhorado no carro para a próxima etapa?

RICARDO: Esperamos melhorar um pouquinho a estabilidade do carro com ajustes de amortecedor e equilibrar o carro, porque estamos correndo com acréscimo de 30 kg no peso. Apesar do carro ser rápido, precisamos equilibrar o carro, porque estava com uma ligeira tendência a empurrar a frente quando pressionávamos o acelerador na saída de algumas curvas.


Ed: Pelos resultados obtidos pelo seu carro e, posteriormente, pelo carro da dupla Negrão / Mattheis, você acha que o modelo GT40 pode receber novos modelos adversários, como o Aston Martin, o Corvette e a Maserati, ou ainda modelos já existentes, modificados, que equilibre a categoria?

RICARDO: A tendência é ficar tudo mais ou menos parecido, pois lá na Europa a categoria já está assim. Alguns carros, que lá fora ganham campeonatos, aqui ainda não encontraram seu melhor acerto, mas isso é questão de tempo e trabalho. Os demais modelos ainda não chegaram porque ainda estão sendo estabelecidas preferências e afinidades pela experiência de cada um no acerto dos carros. Dos já existentes cito os Porsches com grande potencial, mas ainda não desenvolveram tudo que podem, com isso virão pra frente. O mesmo acontecerá com os Ferraris.


Ed: Mais um grande piloto chegou à categoria. Como você encara a chegada de Nelson Piquet?

RICARDO: Quem foi rei nunca perde a majestade. Não é assim? Acredito que ele vai nos dar trabalho (risos). Eu vejo por mim, depois de 9 anos fora de atividade, ao sentar no carro a coisa começa a voltar. Ele vai voltar rápido. E, claro, a categoria inteira ganha com a chegada de mais um piloto de renome, pois gera atratividade a mais para o espetáculo.


Ed: Como você compararia o estágio atual da categoria no Brasil com o que se faz na Europa com a FIA GT?

RICARDO: Minha primeira experiência com carro de turismo numa temporada foi essa. Nunca havia feito outra antes. Claro que a gente faz um contato ou outro, como foi o caso da Porsche Cup em 97. Achei o carro macio pra mim na época, pois meu comparativo era um carro muito duro como um fórmula, mas achei interessante. Acho muito bom o Ford GT, é um carro bem divertido. É um prazer guiá-lo.

WALTER SALLES Jr


O carioca Walter Salles Jr é um cineasta consagrado, que sempre viveu de perto o automobilismo, dentro e fora das pistas. O Diretor do filme "Central do Brasil" lembra-se dos muitos momentos vividos no esporte, dos quais pontua os torneios de kart nos quais enfrentou nomes como Andreas Mattheis e Chico Serra.

Guarda com muito carinho na memória os momentos de aventura em que, ainda garoto, viajou para ficar debruçado na mureta da pista, assistindo corridas de carros de turismo dirigidos por nomes como Emerson Fittipaldi, seu irmão Wilson e José Carlos "Moco" Pace, bem antes deles chegarem ao cenário máximo do automobilismo internacional, quando ainda dirigiam Karmann Guia Dacon, VW com dois motores e Fitti Porsche.

Num desses momentos, Walter Salles e Ed Cordeiro, que colheu esse depoimento, dividem as recordações das primeiras transmissões da Fórmula 1. "A gente acordava no domingo bem cedo, assistia um pouco o programa Concertos para Juventude, depois Santa Missa em seu Lar e, então, vinha a corrida de Fórmula 1", lembram rindo.

Ed: Sendo o automobilismo uma paixão tão antiga e um cineasta por profissão, porque você ainda não fez um filme sobre automobilismo?

WALTER SALLES Jr: Tem razão, mas acho muito difícil ir adiante do que já foi feito até agora. Cito dois exemplos disso. O primeiro é "Grand Prix" (J. Frankenheimer, 1966) e o segundo "As 24 horas de Le Mans" (com Steve Mcqueen, 1971). Esses filmes foram produzidos em condições únicas. Receberam todo suporte dos organizadores das corridas e dos pilotos e foram numa época em que não havia transmissão via satélite das corridas, como vemos hoje em dia. Tudo resultou numa oportunidade na qual os espectadores poderiam sentir toda emoção e adrenalina de uma corrida naquela época.


Ed: É verdade. Inclusive o filme mostrava cenas em que pilotos morriam, apareciam sangrando e isso foi criticado na época porque consideraram um exagero.

WALTER SALLES Jr: É verdade. Uma vez conversando com o Emerson (Fittipaldi), ele falou que no início da temporada todos os pilotos tiravam uma foto e, no final da temporada, um ou mais deles não estaria mais vivo. Morria um ou dois pilotos por ano. Havia muito amadorismo na época e a falta de socorro adequado foi responsável por algumas vidas perdidas. Lembramos todos do desespero de um piloto, Tom Price, em salvar a vida de outro dentro de um carro em chamas. Acho difícil superar essas obras.


Ed: Mas há tantas histórias interessantes...

WALTER SALLES Jr: É verdade, numa dessas oportunidades em 1994, em parceria com um amigo, Francisco Pinto, tivemos a idéia de filmar a primeira temporada de Ayrton Senna na equipe Williams de F-1. Chegamos a conversar com o Ayrton sobre isso, fomos buscar recursos para isso, mas o Bernie Eclestone vetou o projeto. Na época ficamos desapontados, mas depois agradecemos a decisão do destino porque teria sido duro fazer a edição do que aconteceu no dia 1o de maio de 1994. Seria muito difícil estar ali e presenciar tudo aquilo.


Ed: Pelo que vejo, vamos ficar sem um filme automobilístico...

WALTER SALLES Jr: (risos) Creio que sim. Por enquanto não...


Ed: A categoria GT3 Brasil é um grande espetáculo. Você acredita que será possível alcançar o mesmo sucesso comercial e de mídia que alcançou a Stock Car?

WALTER SALLES Jr: A Stock Car Brasil é um capítulo à parte no automobilismo brasileiro, pelo número de pilotos inscritos, nível de competitividade, apoio de mídia, marketing e o charme da categoria ser multimarcas (Mitsubishi, GM, Peugeot, ...). Mas a GT3 também exibe atrativos que fazem dela uma categoria de interesse. Muitos pilotos egressos da própria Stock Car, vários nomes consagrados da Fórmula 1, carros de grandes fabricantes (Ferrari, Porsche, Ford, Lamborghini e Dodge), reais (não são somente as capas que são diferentes) e que povoam as ruas e sonhos dos amantes do automóvel.

O nível técnico é elevado, podem mostrar o grande valor da técnica em carros com tecnologia de ponta. Isso faz da GT3 uma grande categoria, que mostra um desempenho de até 4 segundos mais rápido que os carros da Stock, que apresentam um outro regulamento.


Ed: E o FIA GT na Europa?

WALTER SALLES Jr: Para mim é muito atraente como categoria. A única corrida em que tive algum contato foi em 96 depois que eu, o Roberto (Aranha) e o André (Lara Resende) corremos as 1000 milhas e vencemos. O André, então, num contato que já tinha com o Konrad, preparador Porsche, nos convidou para fazer uma etapa de FIA GT2, de Porsche, em Silverstone. Foi só isso. Uma corrida fantástica, com cerca de 60 carros, 3 horas de corrida... Roberto ....(Roberto Aranha estava próximo e foi chamado para tirar a dúvida) ... quando estivemos em Silverstone?
ROBERTO: Em maio de 97.
WALTER SALLES Jr: É Isso. Estávamos em 4o na categoria, quando tivemos um problema no final. Mas falando da FIA GT, soube que o Corvette está rápido. Esse pacote que estamos usando (Ford GT) está bem mais rápido, pois foi redesenhado.


Ed: Walter, muito obrigado.
WALTER SALLES Jr: Um grande abraço aos leitores do site.

Detalhe do painel do Ford GT

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